Não há bairro problemático, caçadeira apontada, tumulto em manifestação ou inferno de chamas que me tenha colocado tão perto do limite como a privação de sono. Posso dizê-lo com conhecimento de causa, por já ter sido posto à prova em todas as situações referidas, ainda que, para minha felicidade, nenhuma delas tenha chegado a um ponto sem retorno. Por vezes, tive medo. Noutras, corri para salvar a pele. Em todas, porém, senti-me em águas tranquilas minutos depois de deixar para trás o epicentro da tempestade. A privação de sono é diferente, porque me acompanhava para todo o lado, a todo o momento. Não me deixava pensar, não me deixava respirar, não me deixava descontrair, não me deixava sorrir e, nos dias mais complicados, não me deixava ser feliz.
Antes de mim, outros progenitores tiveram noites terríveis na companhia dos filhos. E depois de mim, outros tantos passarão com certeza pelo mesmo, ou por pior. Mas nem todos conseguem sair ilesos desta viagem. Nem todos conseguem chegar ao fim sem ver o seu mundo, ou pelo menos parte dele, ruir como um castelo de areia atropelado pela maré. E não. Não é exagero! Há casais que passam, a dormir separados por causa dos ritmos de sono dos bebés. Há pais a perder cabelo e mães a ficar em pele e osso devido ao stress provocado pela situação. Há lares que se fragmentam por completo, sob a pressão das rotinas impostas para resolver o problema. No fim da linha, está o divórcio, que muitas vezes ocorre porque os papás e as mamãs não se põem de acordo quanto à forma de resolver esta questão estrutural, que tem implicações de fundo na vida de um agregado.
Este é apenas um dos muitos desabafos que constam do livro O Meu Filho Não Dorme. Felizmente, conseguimos vencer a batalha contra a privação de sono.