Durante o primeiro ano de vida, o Afonso não dormia nem deixava ninguém dormir. Acordava de duas em duas horas, sobretudo porque nem eu nem a Susana, conseguimos implementar rotinas suficientemente eficazes para o ensinar a passar bem as noites. Umas vezes, era eu quem o embalava ao colo, outras, era a mãe quem lhe dava mama até ele cair para o lado. Mas fosse qual fosse a solução encontrada para adormecer a cria, ela acordava ao fim de pouco tempo. Quando se apanhava no berço, devia sentir-se enganada porque já não estava ao colo do papá, nem agarrado à mama da mãe.
Pouco depois do Afonso completar o primeiro ano de vida, decidimos que tínhamos de fazer alguma coisa. Falámos com o pediatra, recorremos ao livro de um terapeuta de sono e começámos a tentar ensina-lo a dormir. Na primeira noite de aplicação do método acordei 11 (sim, 11) vezes! E isto, depois de quase duas horas de luta para que ele adormecesse. Nessa mesma noite, o Afonso conseguiu não protestar durante as primeiras quatro horas, o que constituiu novo record pessoal para o meu pequeno bandido. O pior veio depois…
Quando me levantei, por volta das 6h para trabalhar, nem sabia bem se havia de rir ou de chorar. Foi o inicio de uma batalha que durou dois anos. Foi o inicio de uma batalha que, todos juntos, cá em casa, conseguimos vencer.
Saio da cama ao mesmo tempo que a minha mulher. Estou cansado, mas animado. Sinto-me numa esquizofrenia de sensações porque a noite foi um caos, mas o Afonso adormeceu na cama dele e fez quatro horas de sono consecutivas, algo que não acontecia desde os primeiros meses de vida. Enquanto ela se maquilha, faço uma narração tão detalhada quanto possível da aventura nocturna. E acrescento nunca ter imaginado que uma mulher pudesse ficar tão sexy a roncar. Ela escuta o relato com atenção e, no final, olha para mim sem saber se há-de dar-me credibilidade ou mandar-me internar.
In O Meu Filho Não Dorme, Luís Maia, Editora Guerra e Paz, 2018