Lembro-me de começar a vibrar com futebol mais ou menos na altura em que aprendi a ler e escrever. Mas mesmo quem não sabe ler nem escrever, entende facilmente que futebol é paixão, é emoção, é gritar até ficar rouco na comemoração de um golo, é ficar mudo de desilusão quando se perde um jogo decisivo. Futebol é rivalidade, é defesa acérrima das nossas cores. Futebol é a euforia da vitória. É a frustração da derrota. Mas futebol não pode ser sinónimo de ignorância. Nem de ódio.
O ambiente no futebol português é mau. E duvido que as coisas melhorem enquanto houver equipas a celebrar títulos com insultos aos adversários. Duvido que haja paz enquanto não se souber toda a verdade acerca de e-mails, toupeiras e corrupção. Duvido que a credibilidade do jogo aumente enquanto houver cobardes a agir a coberto de denuncias anónimas. Duvido que esta industria tenha boa imagem enquanto dirigentes populistas persistirem em discursos incendiários.
Os treinadores não podem dizer que não comentam arbitragens, para quebrarem a promessa a cada vez que perdem uma partida. A comunicação social não pode gastar mais tempo a debater polémicas do que o jogo em si. Os adeptos não podem estar mais preocupados em lamentar erros de arbitragem, do que os golos falhados de baliza aberta.
No futebol há adversários, não há inimigos. Não pode haver inimigos. E quem não percebe isto, está a mais no futebol. Está a mais no desporto. Quem acha que invadir o balneário de uma equipa e agredir jogadores, é a forma de resolver seja o que for, não gosta de futebol nem gosta do seu clube. Felizmente, esta gente é uma minoria. Mas a verdade é que, ainda que sejam poucos, há palermas a mais no futebol.