Há Palermas a Mais no Futebol

Lembro-me de começar a vibrar com futebol mais ou menos na altura em que aprendi a ler e escrever. Mas mesmo quem não sabe ler nem escrever, entende facilmente que futebol é paixão, é emoção, é gritar até ficar rouco na comemoração de um golo, é ficar mudo de desilusão quando se perde um jogo decisivo. Futebol é rivalidade, é defesa acérrima das nossas cores. Futebol é a euforia da vitória. É a frustração da derrota. Mas futebol não pode ser sinónimo de ignorância. Nem de ódio.

O ambiente no futebol português é mau. E duvido que as coisas melhorem enquanto houver equipas a celebrar títulos com insultos aos adversários. Duvido que haja paz enquanto não se souber toda a verdade acerca de e-mails, toupeiras e corrupção. Duvido que a credibilidade do jogo aumente enquanto houver cobardes a agir a coberto de denuncias anónimas. Duvido que esta industria tenha boa imagem enquanto dirigentes populistas persistirem em discursos incendiários.

Os treinadores não podem dizer que não comentam arbitragens, para quebrarem a promessa a cada vez que perdem uma partida. A comunicação social não pode gastar mais tempo a debater polémicas do que o jogo em si. Os adeptos não podem estar mais preocupados em lamentar erros de arbitragem, do que os golos falhados de baliza aberta.

No futebol há adversários, não há inimigos. Não pode haver inimigos. E quem não percebe isto, está a mais no futebol. Está a mais no desporto. Quem acha que invadir o balneário de uma equipa e agredir jogadores, é a forma de resolver seja o que for, não gosta de futebol nem gosta do seu clube. Felizmente, esta gente é uma minoria. Mas a verdade é que, ainda que sejam poucos, há palermas a mais no futebol.

Publicado por

Luís Maia

Luís Maia nasceu a 15 de Outubro de 1976, na Póvoa de Varzim. Licenciou-se em Comunicação Social no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Em 1999 trocou um emprego em part-time, num call center, por um estágio remunerado somente com senhas de refeição, na redação da TVI. Iniciou aí uma carreira de repórter que o levou a produtoras como a Duvideo, Teresa Guilherme Produções e Comunicassom, para além do jornal 24 Horas e de estações como a TVI e a SIC. Entre 2008 e 2009 viveu em Angola, onde coordenou o entretenimento do primeiro canal privado daquele país, a TV Zimbo. Actualmente trabalha para a FremantleMedia, fazendo reportagens em directo no segmento de actualidade criminal, do programa Queridas Manhãs da SIC. É baterista reformado, ex-futuro jogador de poker. Mas é, sobretudo, marido, pai e, segundo consta, bom chefe de família.

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