Guia Prático Para Uma Noite de Núpcias

Há quem diga que as noites de núpcias já não são o que eram. Que perderam a mística. Eu não tenho tanta certeza. É certo que os tempos mudaram e que há cada vez menos cavalheiros e donzelas capazes de esperar até ao casamento para se conhecerem no sentido bíblico. Eu próprio, que me considero forte candidato ao Prémio Nobel da Paciência, não era rapaz para me comprometer com semelhante espera. Estarão, por isso, as noites de núpcias a tornar-se obsoletas, condenadas a desaparecer? Claro que não!

Que atire a primeira pedra quem não chegou completamente rebentado ao quarto, depois da extenuante festa do copo de água! Posto isto, a cama pode até já nem servir para aquilo que servia nas noites de núpcias do tempo dos nossos avós. Mas à falta de melhor, serve para dormir. E mesmo perante este cenário, há alguém que se esqueça de como foi a dita noite? Eu diria que não. E diria ainda que, mesmo na pior das contingências, há sempre uma forma do bom macho latino satisfazer a sua mulher na noite de núpcias… nem que seja ajudando-a a tirar vestido.

Então vou contar-vos como foi a minha experiência no que toca a este assunto:

Chegado a casa, ao fim da noite, uma das imagens que me ficará para sempre gravada na memória é a da Susana, ainda vestida de noiva, sentada na cama, a comer uma taça de cereais. A pobre nubente quase nem teve tempo para se alimentar convenientemente durante o copo-de-água, ao contrário de mim, que me fartei de conviver enquanto ingeria nutrientes indispensáveis à sobrevivência de um homem, mas também líquidos de valor nutricional duvidoso. De qualquer forma, bem analisada a situação, ela ainda pode gabar-se de ter comido alguma coisa na noite de núpcias. Eu não.

O máximo que vi do corpo da minha mulher, a 7 de Junho de 2015, foi a perna direita, quando ela se empoleirou em cima de uma cadeira, para leiloar a liga que lhe fugia vertiginosamente coxa acima, a cada licitação. Ah!… Também lhe vi as costas no momento em que a ajudei a desapertar o vestido, já no recato do lar. Mais nada. A seguir, cama! Estamos exaustos. A desforra fica marcada para a lua-de-mel.

in O Meu Filho Não Dorme, Luís Maia, Editora Guerra e Paz, 2018

Publicado por

Luís Maia

Luís Maia nasceu a 15 de Outubro de 1976, na Póvoa de Varzim. Licenciou-se em Comunicação Social no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Em 1999 trocou um emprego em part-time, num call center, por um estágio remunerado somente com senhas de refeição, na redação da TVI. Iniciou aí uma carreira de repórter que o levou a produtoras como a Duvideo, Teresa Guilherme Produções e Comunicassom, para além do jornal 24 Horas e de estações como a TVI e a SIC. Entre 2008 e 2009 viveu em Angola, onde coordenou o entretenimento do primeiro canal privado daquele país, a TV Zimbo. Actualmente trabalha para a FremantleMedia, fazendo reportagens em directo no segmento de actualidade criminal, do programa Queridas Manhãs da SIC. É baterista reformado, ex-futuro jogador de poker. Mas é, sobretudo, marido, pai e, segundo consta, bom chefe de família.

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