É impossível esquecer Pedrogão, impossível esquecer Castanheira de Pêra, impossível esquecer Mação, Góis, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra e tantos outros recantos deste Portugal, impiedosamente consumidos pelas chamas em 2017. É impossível esquecer as vidas perdidas, 116 ao todo. É impossível esquecer as lágrimas, o sofrimento, o desespero dos que lutaram contra as chamas, sem outro auxilio que não o das próprias mãos e de meia dúzia de ferramentas rudimentares.
É impossível esquecer o homem que exortou a mulher a fugir, para ficar ele próprio a defender a casa das chamas que se aproximavam. Horas depois soube que a tinha mandado para a morte.
É impossível esquecer a senhora que prescindiu de adquirir os seus próprios medicamentos, de modo a ter dinheiro para comprar ração para os poucos animais que lhe restavam, pois dependia deles para sobreviver.
É impossível esquecer o homem que se salvou, fugindo na bagageira do carro de um vizinho, sobrelotado por pessoas que fugiam à morte.
É impossível esquecer o homem que me ameaçou com a sua caçadeira, por achar que eu e o repórter de imagem éramos apenas mais dois burlões, que estariam a tentar enganar as vítimas dos incêndios que viviam isoladas.
Como ser humano e como repórter, creio que nunca poderei apagar o que vi, o que ouvi e o que senti entre Junho e Outubro do ano passado. Jamais assisti a tão profundo caos, em toda a minha vida. Este ano tem de ser diferente!