É daquelas situações embaraçosas. Desvio o olhar durante dois segundos e quando dou por mim, já lá está o gajo de olhos azuis, com ar de valente cavaleiro, pele lisa e sem rugas, a dar bola à minha mulher. Ele é alto e espadaúdo, de ar destemido, apesar de vestir uma cota de malha que já não se usa há uns 500 anos.
Começo a perceber que o tipo não é de grandes conversas, mas ocorre-me de imediato que há mulheres que gostam deles mais tímidos. Acho que a minha não é dessas, até porque escolheu um marido da área da comunicação, apenas para poder ouvir coisas fofas, sussurradas ao ouvido, com voz de radialista, a altas horas da noite.
A verdade é que, não sei como, mas o gajo da cota de malha e a minha senhora lá estabelecem alguma espécie de comunicação. Deve ter sido aquele olhar matador, pintado em tons de azul que a convenceu.
E, de repente, um beijo! Raios! É ela quem toma a iniciativa. Estou prestes a fazer o gajo da cota de malha reviver os tempos das batalhas medievais, atirando-o muralha abaixo. Mas não é preciso.
Ele deve ser turista. Queria ter ido ver a Dinamarca ou a Suécia, jogarem no campeonato do mundo da Russia, mas enganou-se no caminho e foi parar ao Marvão. Quando percebeu que a televisão portuguesa não transmitia a maioria dos jogos em sinal aberto, ficou petrificado. Sem reacção. Nem conseguiu aproveitar o beijo na bochecha, que podia ter quebrado o gelo com a donzela lusa.
Que se lixe! Um homem que só pensa em futebol, não se safa com mulheres. Mesmo que tenha olhos azuis. E, para além disso, a Susana já me disse que não há nada como o macho latino! Especialmente se o dito cujo lhe continuar a sussurrar coisas fofas (e de outra índole também) ao ouvido, a altas horas da noite.