Oito Perguntas Para Ricardo Robles

Em primeiro lugar, devo dizer que não tenho nada contra quem ganha dinheiro a comprar e vender imóveis, ou contra quem ganha dinheiro com o alojamento local, apesar de ter noção que esses dois factores jogam contra mim neste preciso momento. Ando à procura de casa para comprar, porque vivo numa arrendada e não consigo sequer aproximar-me dos valores que pedem pelos imóveis em grande parte do concelho de Oeiras, que é onde eu e a minha mulher trabalhamos e onde se situam as escolas dos miúdos. Ou seja, ando a ser tramado pela especulação imobiliária, mas tenho fair play e não tento não ser tendencioso.

Posto isto, vamos então às questões…

Caro engenheiro Ricardo Robles

  1. Como é que alguém compra um imóvel por 370 000€ e gasta mais 600 000€ em obras, com um rendimento de 21 000€ anuais?
  2. Se, com esses parcos rendimentos, teve de se empenhar até aos ossos para comprar o edifício e fazer obras, como consegue cobrar apenas 170€ ou 180€ de renda mensal aos antigos inquilinos (tal como disse quando confrontado pelos jornalistas), sem ir à falência?
  3. Como é que este imóvel, que esteve à venda por 5 milhões de euros, não paga o adicional de IMI, o chamado Imposto Mortágua (criado pelo partido do engenheiro Robles), que taxa imóveis com um valor patrimonial superior a meio milhão?
  4. Porque é que o executivo do doutor Medina, da Câmara Municipal de Lisboa, isentou o seu imóvel de IMI entre 2017 e 2021? É que estas isenções abrangem apenas edifícios que foram requalificados e não edifícios que para além de requalificados, foram também ampliados, como o seu…
  5. Se é contra a especulação imobiliária, porque é que colocou o imóvel à venda por 5 milhões, quando o seu valor de mercado (segundo vários especialistas do ramo) estaria mais próximo dos 3,5 milhões?
  6. Se é contra a especulação imobiliária, porque é que tem uma casa no Conde Redondo e outra nas Janelas Verdes (ambas no centro de Lisboa), arrendadas por mais de 1 000€ cada uma?
  7. Como é que um engenheiro civil, especialista em reabilitação urbana e eficiência energética, não percebeu que a conjunção de todos estes factores, poderia terminar numa grande embrulhada?
  8. Se afinal não é assim tão contra a especulação imobiliária, qual é a necessidade de dar a cara em outdoors, contra a especulação imobiliária e contra o arrendamento local, em Lisboa?

O que é tramado não é investir e ganhar dinheiro com isso. O que é tramado é comportar-se perante as massas como dono da moralidade e, pelas costas, fazer tudo ao contrário daquilo que se apregoa na praça pública.

Publicado por

Luís Maia

Luís Maia nasceu a 15 de Outubro de 1976, na Póvoa de Varzim. Licenciou-se em Comunicação Social no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Em 1999 trocou um emprego em part-time, num call center, por um estágio remunerado somente com senhas de refeição, na redação da TVI. Iniciou aí uma carreira de repórter que o levou a produtoras como a Duvideo, Teresa Guilherme Produções e Comunicassom, para além do jornal 24 Horas e de estações como a TVI e a SIC. Entre 2008 e 2009 viveu em Angola, onde coordenou o entretenimento do primeiro canal privado daquele país, a TV Zimbo. Actualmente trabalha para a FremantleMedia, fazendo reportagens em directo no segmento de actualidade criminal, do programa Queridas Manhãs da SIC. É baterista reformado, ex-futuro jogador de poker. Mas é, sobretudo, marido, pai e, segundo consta, bom chefe de família.

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