Em primeiro lugar, devo dizer que não tenho nada contra quem ganha dinheiro a comprar e vender imóveis, ou contra quem ganha dinheiro com o alojamento local, apesar de ter noção que esses dois factores jogam contra mim neste preciso momento. Ando à procura de casa para comprar, porque vivo numa arrendada e não consigo sequer aproximar-me dos valores que pedem pelos imóveis em grande parte do concelho de Oeiras, que é onde eu e a minha mulher trabalhamos e onde se situam as escolas dos miúdos. Ou seja, ando a ser tramado pela especulação imobiliária, mas tenho fair play e não tento não ser tendencioso.
Posto isto, vamos então às questões…
Caro engenheiro Ricardo Robles
- Como é que alguém compra um imóvel por 370 000€ e gasta mais 600 000€ em obras, com um rendimento de 21 000€ anuais?
- Se, com esses parcos rendimentos, teve de se empenhar até aos ossos para comprar o edifício e fazer obras, como consegue cobrar apenas 170€ ou 180€ de renda mensal aos antigos inquilinos (tal como disse quando confrontado pelos jornalistas), sem ir à falência?
- Como é que este imóvel, que esteve à venda por 5 milhões de euros, não paga o adicional de IMI, o chamado Imposto Mortágua (criado pelo partido do engenheiro Robles), que taxa imóveis com um valor patrimonial superior a meio milhão?
- Porque é que o executivo do doutor Medina, da Câmara Municipal de Lisboa, isentou o seu imóvel de IMI entre 2017 e 2021? É que estas isenções abrangem apenas edifícios que foram requalificados e não edifícios que para além de requalificados, foram também ampliados, como o seu…
- Se é contra a especulação imobiliária, porque é que colocou o imóvel à venda por 5 milhões, quando o seu valor de mercado (segundo vários especialistas do ramo) estaria mais próximo dos 3,5 milhões?
- Se é contra a especulação imobiliária, porque é que tem uma casa no Conde Redondo e outra nas Janelas Verdes (ambas no centro de Lisboa), arrendadas por mais de 1 000€ cada uma?
- Como é que um engenheiro civil, especialista em reabilitação urbana e eficiência energética, não percebeu que a conjunção de todos estes factores, poderia terminar numa grande embrulhada?
- Se afinal não é assim tão contra a especulação imobiliária, qual é a necessidade de dar a cara em outdoors, contra a especulação imobiliária e contra o arrendamento local, em Lisboa?
O que é tramado não é investir e ganhar dinheiro com isso. O que é tramado é comportar-se perante as massas como dono da moralidade e, pelas costas, fazer tudo ao contrário daquilo que se apregoa na praça pública.