Em reportagem, Já me apontaram armas de fogo, já me ameaçaram com arma branca, já me tentaram bater, atropelar e apedrejar. Felizmente nunca me conseguiram fazer mal. Porém, em nenhuma dessas circunstâncias me senti tão desconfortável, tão apertado, como na reportagem que fiz no Bairro Portugal Novo, onde nem sequer me tentaram fazer mal.
Assim que lá cheguei com o repórter de imagem, o Nuno Martins, abordámos dois moradores do bairro e rapidamente percebemos que os jornalistas não eram bem-vindos ali e que ninguém ia falar connosco acerca do que quer que fosse. Em todas as esquinas onde gravámos, tínhamos dois ou três indivíduos a vigiar-nos, de braços cruzados.

Naquele bairro, há pessoas, maioritariamente idosas, que vivem atemorizadas por marginais que se querem apoderar das suas casas. Quem toma conta dos imóveis, arrenda-os ou utiliza-os para guardar coisas, algumas delas, talvez, ilicitas.
Não devemos colocar de parte a possibilidade deste clima de terror ter custado a vida a um senhor de 89 anos, de seu nome Vitorino Guerreiro, assassinado com uma facada no coração, a 13 de Março de 2018. A PJ ainda não conseguiu encontrar o homicida, mas sabe-se que Vitorino andava a ser coagido para largar a sua casa por pouco ou nenhum dinheiro.

A pergunta que impõe é: Como é possível ocupar a casa de alguém, sem que haja consequências? Porque, na verdade, aquelas casas não são de ninguém! Eram de uma cooperativa que já não existe e, entretanto, ninguém pôs mão naquilo. Nem a Câmara Municipal de Lisboa, nem o estado. Ninguém!
Entretanto, esta terra de ninguém, que tem uma esquadra da PSP nas traseiras e que se situa no centro de Lisboa, transformou-se numa terra sem lei.