Como Agradar às Mulheres

Estimadas leitoras, este texto não é para vocês. Acabo de constatar que a esmagadora maioria dos seguidores deste blog são do sexo feminino, o que comprova que as mulheres têm uma especial sensibilidade para o belo e o sublime, mas perdoem-me a ousadia, tenho de fazer alguma coisa para cativar outro tipo de audiência. Refiro-me ao típico macho latino, que coça as partes baixas em público e escarra para o chão. A boa notícia é que já descobri o que fazer para chegar ao coração desse nicho de mercado. Anuncío então que, por tentativa e erro, descobri a fórmula mágica para agradar às mulheres. Gajos deste país, aproveitem! As dicas neste site (ainda) são de borla! Ora, cá vai:

  1. Leva-la a jantar a um restaurante caro – Errado! Ela vai pensar que somos maus gestores de finanças, que o dinheiro não vai chegar para a educação dos filhos ou que, no limite, que não vai chegar para lhe oferecer nada de especial no primeiro dia da época dos saldos.
  2. Leva-la a jantar a um tasco malcheiroso – Errado! Ela vai achar que somos uns pedintes e que nunca a iremos levar a um sitio caro.
  3. Nunca a levar a jantar fora – Errado! Ela vai achar que terá de cozinhar para nós para todo o sempre, sem folgas e sem direito a subsídio de férias.
  4. Fazer juras de amor numa base diária – Errado! Ela vai achar que somos como lapas e que nunca mais terão liberdade.
  5. Nunca fazer juras de amor – Errado! Ela vai achar que somos uns grunhos e que só a queremos comer.
  6. Fazer juras de amor, dia sim, dia não – Errado! Ela vai achar que somos esquizofrénicos ou que não sabemos o que queremos da vida.
  7. Demorar mais tempo do que ela em frente ao espelho, de manhã – Errado! Ela vai duvidar da nossa masculinidade.
  8. Não olhar para o espelho, de manhã – Errado! Ela vai confundir-nos com um Homem de Neandertal.
  9. Demorar mais ou menos o mesmo tempo do que elas em frente ao espelho, de manhã – Errado! Não me ocorre nenhuma resposta, mas provavelmente ela também não vai gostar.
  10. Chegar a casa e dizer-lhe algo provocador ao ouvido – Errado! Ela vai reclamar odes ao amor.
  11. Chegar a casa e declamar-lhe poesia ao ouvido – Errado! Ela vai achar que estamos com os copos.
  12. Chegar a casa e não lhe dizer nada ao ouvido – Errado! Ela vai achar que temos outra.

Caros leitores (sim, agora já posso usar o masculino), espero ter ajudado. Como já devem ter percebido, é extremamente fácil agradar às mulheres. Basta evitar as asneiras acima descritas, que elas vão cair aos vossos pés. Comigo funciona! Pelo menos, a senhora gira que aparece comigo na foto costuma dizer que me ama muito tal como eu sou.

A Primeira Vez

Durante o primeiro ano de vida, o Afonso não dormia nem deixava ninguém dormir. Acordava de duas em duas horas, sobretudo porque nem eu nem a Susana, conseguimos implementar rotinas suficientemente eficazes para o ensinar a passar bem as noites. Umas vezes, era eu quem o embalava ao colo, outras, era a mãe quem lhe dava mama até ele cair para o lado. Mas fosse qual fosse a solução encontrada para adormecer a cria, ela acordava ao fim de pouco tempo. Quando se apanhava no berço, devia sentir-se enganada porque já não estava ao colo do papá, nem agarrado à mama da mãe.

Pouco depois do Afonso completar o primeiro ano de vida, decidimos que tínhamos de fazer alguma coisa. Falámos com o pediatra, recorremos ao livro de um terapeuta de sono e começámos a tentar ensina-lo a dormir. Na primeira noite de aplicação do método acordei 11 (sim, 11) vezes! E isto, depois de quase duas horas de luta para que ele adormecesse. Nessa mesma noite, o Afonso conseguiu não protestar durante as primeiras quatro horas, o que constituiu novo record pessoal para o meu pequeno bandido. O pior veio depois…

Quando me levantei, por volta das 6h para trabalhar, nem sabia bem se havia de rir ou de chorar. Foi o inicio de uma batalha que durou dois anos. Foi o inicio de uma batalha que, todos juntos, cá em casa, conseguimos vencer.

Saio da cama ao mesmo tempo que a minha mulher. Estou cansado, mas animado. Sinto-me numa esquizofrenia de sensações porque a noite foi um caos, mas o Afonso adormeceu na cama dele e fez quatro horas de sono consecutivas, algo que não acontecia desde os primeiros meses de vida. Enquanto ela se maquilha, faço uma narração tão detalhada quanto possível da aventura nocturna. E acrescento nunca ter imaginado que uma mulher pudesse ficar tão sexy a roncar. Ela escuta o relato com atenção e, no final, olha para mim sem saber se há-de dar-me credibilidade ou mandar-me internar.

In O Meu Filho Não Dorme, Luís Maia, Editora Guerra e Paz, 2018

Uma Questão de Memória

Ex-Primeiro-Ministro e ex-preso preventivo em Évora, José Sócrates, apresentou-se na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, como o ex-futuro salvador da pátria. O engenheiro gabou a “coragem e o desassombro” dos estudantes que o convidaram para aquela palestra e disse que o país não tem um verdadeiro “projecto de modernização” desde que ele saiu do governo. Disse também que o seu executivo foi o último a apostar em “construção de escolas públicas, de barragens, de mais investimento na ciência, nas tecnologias de informação, na modernização das infraeestruturas”. Mas não disse que deixou o país com um défice de 11,2% do PIB.

Sócrates vociferou contra a austeridade, acusando Pedro Passos Coelho de ter sido como alguém que está “num buraco” e que “para sair do buraco, escava mais, afundando-se ainda mais”. Mas não disse que, em 2010, foi ele mesmo a propor os primeiros pacotes de austeridade (PEC), que pretendiam conter a despesa com recurso, por exemplo, à redução dos salários da função pública. E também não disse que, à época, justificou a sua decisão alegando que “estas medidas só são tomadas quando um político entende em consciência que não há nenhuma outra alternativa”.

O engenheiro defendeu também que “a ideia da rede de alta velocidade parar em Badajoz, por uma decisão política que nos condena ao atraso é das ideias mais reacionárias” que tem ouvido nos últimos tempos. E atira culpas ao governo PSD/CDS. Ora, eu que sou, de uma forma geral, a favor do progresso, concordo que precisamos de uma modernização urgente dos transportes ferroviários nacionais, desde que os investimentos sejam feitos de forma transparente e sem recurso a um endividamento irracional. Mas José Sócrates não disse que foi um despacho do seu próprio governo, em 2010, a suspender o projecto do TGV, por falta de condições financeiras.

É tudo uma questão de memória.

Ser Pai Já Não é o Que Era (é Muito Mais)

Não podia deixar de plasmar neste blog, as palavras de uma mulher, uma das pessoas que ajudou a minha família a mitigar o calvário das noites mal dormidas. A Filipa Sommerfeldt Fernandes é terapeuta do sono, escreveu o prefácio d’O Meu Filho Não Dorme e descreve-me, de forma elogiosa, como um pai dos tempos modernos.

De facto, ser pai nos dias de hoje, apresenta desafios completamente diferentes daqueles que se colocavam nos tempos dos nossos pais e dos nossos avós. As linhas que se seguem reflectem apenas um dos aspectos em que mais se nota essa mudança.

Cá vai:

A maioria dos pais não acorda de noite quando os filhos chamam; continuam a dormir. A mãe pode levantar-se cinco vezes e estar de rastos de manhã que não é raro ouvir um: Esta noite até foi boa, não foi?

A maioria dos pais precisa de levar uns bons pontapés das mulheres (por vezes dados com mais garra e determinação do que o esperado) para conseguir levantar-se às 3h00 da manhã e ir preparar um biberão ou acalmar um bebé que chora. E fazem-no quase sempre a rosnar, zangados pelo sono interrompido.

A maioria dos pais entra no quarto onde o filho dorme tranquilamente e, na sua cabeça, sente-se a versão feminina das fadas (mas sem collants ou coisas do género), pois acham que vão pairar até à cama qual pássaro de asas estendidas a ser transportado pelo vento. Mas isto é só nas suas cabeças. Na realidade, as suas passadas assemelham-se às de um rinoceronte a percorrer uma passerelle, a respiração parece um tractor e o movimento nos lençóis faz lembrar uma luta de gatos dentro de um saco de plástico.

Os miúdos acordam. As mães irritam-se com os pais em silêncio (ou não), os pais bufam e as mães vão lá…

Ao longo dos anos a lidar com mães e pais que sofrem com a privação de sono, posso dizer que encontrei de quase tudo. E embora haja cada vez mais pais presentes de noite, na realidade a maior parte dos despertares nocturnos dos nossos filhos ainda é assegurado pelas mães.

Pelo caminho, vou encontrando excepções à regra. Pais que, como o Luís, querem (aliás, fazem questão disso!) levantar-se de noite e ser eles a cuidar dos filhos. As mães agradecem – e estes pais é que são espertos, porque uma mulher agradecida é uma companheira muito, muito mais fácil!

O Luís e a Susana entraram na minha sala para uma consulta sobre o sono do Afonso e em pouco tempo percebi que aquele era um Paizão. desde muito cedo que o Afonso não dormia bem e, por isso, o Luís sempre assumiu a tarefa nocturna como o seu papel natural. No inicio dividia com a Susana, mas nos últimos tempos – antes de o conhecer – já era mais ele quem se empenhava em que o miúdo dormisse e descansasse a horas que eles consideravam ser as saudáveis recomendadas para a sua idade. Deu para perceber que não só por ser um grande pai e um grande companheiro… mas também porque é regrado (e empenhado). E os pais demasiado regrados e rotinados acabam sempre com esta frustração: a dos miúdos não responderem exactamente como eles desejam.

Este pai-marido-jornalista tinha desenvolvido um ritual fantástico para o Afonso ir dormir à noite, mas que passava por tantas etapas que o miúdo acabava certamente por se esquecer de que o objectivo era dormir e não conversar e brincar. A Susana e o Luís estavam tão empenhados em serem metódicos que nunca sairam da sua rotina – que deu azo a momentos bem caricatos e cómicos, mas também complexos, como os que vão ler neste livro.

E no momento em que relaxaram e permitiram que todos em casa respirassem (e mais umas coisinhas que aqui a terapeuta do sono lhes indicou!), o Afonso começou a dormir melhor e todos passaram a descansar.

Este livro é para todos os pais e mães. Para aqueles que não dormem uma noite completa há demasiado tempo e para os que sempre dormiram bem.

É uma história tragico-cómica, um retrato da parentalidade dos nossos tempos. São histórias reais, na voz de uma pessoa conhecida, que mais do que um jornalista, é Pai.

Não dormir é terrível. Quem passa por meses ou anos sem dormir uma noite completa sabe bem os efeitos que a privação de sono tem, não só no desenvolvimento da criança, no nosso humor e saúde, mas acima de tudo na harmonia da nossa família.. No meu trabalho não é raro encontrar pessoas que perdem a saúde, a paciência, a energia, o trabalho e… os companheiros. Pelo caminho vamos fazendo de tudo para que os miúdos durmam. E, por vezes, quando paramos e olhamos para nós, é inevitavel não sorrir (ou rir à gargalhada) com aquilo que fomos tentando.

Um livro imperdível, que garante muitos momentos divertidos e com o qual muitos pais ( e mães) se vão certamente identificar.

O Luís é o retrato do pai dos tempos modernos.

Filipa Sommerfeldt Fernandes

Terapeuta do Sono

Amor de Pai, Amor de Mãe

Todos os dias acordo a pensar no meu filho e na minha família. Todos os dias deito-me a pensar no meu filho e na minha família. Por essa e por muitas outras ordens de razão, há reportagens que me custam horrores.

Em Abril de 2015, um homem assassinou o filho de cinco meses com uma facada no peito, em Linda-a-Velha, concelho de Oeiras. Os jornais da época publicaram uma selfie do homicida, com o menino ao colo. A imagem tinha sido captada dias antes do crime e deixou-me petrificado. Era muito parecida com as selfies que, por aqueles dias, eu próprio tirava com o Afonso, diariamente, antes de sair de casa, para depois mandar à minha mulher que já se encontrava no trabalho. Não sei quantas vezes engoli em seco durante aquele directo. Vinha-me à memória o fotograma do bebé ao colo do pai e não conseguia evitar o vislumbre de horror, ao imaginar os últimos instantes de vida do menino.

Um colega da TVI, que foi pai pouco depois de mim, escusou-se a fazer essa reportagem. Pediu para trocar com uma colega que não tem filhos. Depois de me ver no ar, telefonou-me e só disse – Tu és maluco… não consegui ir para aí”. Eu fui, mas para dizer a verdade, só queria sair dali o mais rápido possível.

A 10 de Abril de 2018, uma mulher assassinou a filha recém-nascido, com vários golpes de faca. Deu à luz, em casa, com a ajuda da irmã gémea. Escondeu a gravidez e combinou o parto secreto com a pessoa em quem mais confiava. Não teve a ajuda de anestésicos nem quando a criança saiu do seu ventre, nem quando foi suturada nos genitais. As manas só telefonaram para o Número Nacional de Emergência Médica, porque não conseguiram estancar a hemorragia da parturiente. Quando os bombeiros e a polícia chegaram, a bebé estava dentro de um saco do lixo.

Este é mais um daqueles directos em que, durante quatro ou cinco minutos, tenho de me esquecer que sou pai, para conseguir ser jornalista e não perder a clarividência.

 

 

As Camas de Pregos e o Sono das Crianças

O bebé é propenso a despertares nocturnos no fim de cada um dos seus ciclos de sono, que duram cerca de 45 minutos, enquanto os do adulto duram o dobro. É  como se a criança tivesse o sono mais leve. Para diminuir as hipóteses de ocorrência de um acordar intempestivo, convém que veja imagens reconfortantes e familiares logo ao pestanejar, aumentando assim a probabilidade de voltar a adormecer facilmente. O peluche e o quadro ou o desenho são muito importantes, porque a ajudam a perceber que o seu mundo não desabou e que está tudo conforme seria suposto.

Por todos os motivos enunciados anteriormente e mais alguns, embalar o bebé ao colo, agarrado à mama, ou na cadeira-auto de uma viatura em andamento, pode dar mau resultado. Se, por absurdo, adormecermos no nosso leito e acordarmos numa cama de pregos, provavelmente ficaremos assustados. Caso o leitor trabalhe como faquir, dirá que estou armado em mariquinhas, porque as camas de pregos até são um sitio bem fofinho para a soneca. Mas, querido faquir, desafio-o a imaginar que fecha os olhos nos seus aposentos, na sua confortável cama de pregos, e que os abre no interior de uma sala de operações ou na cela de uma prisão do Estado Islâmico! Talvez não ache muita piada, certo?

É mais ou menos isso que acontece ao menino quando adormece ao meu colo e desperta no berço, ou quando adormece agarrado à mama e acorda sem mama na boca. Eu também ficaria irritado se adormecesse a fazer conchinha com a Susana e acordasse, de madrugada, agarrado às almofadas, ou ao meu primo, que é um gajo peludo como o raio!

Eis mais um excerto do livro O Meu Filho Não Dorme. Aproveite a dica, para aumentar a probabilidade do seu filho passar noites descansadas.

O Meu Filho Já Dorme

Não há bairro problemático, caçadeira apontada, tumulto em manifestação ou inferno de chamas que me tenha colocado tão perto do limite como a privação de sono. Posso dizê-lo com conhecimento de causa, por já ter sido posto à prova em todas as situações referidas, ainda que, para minha felicidade, nenhuma delas tenha chegado a um ponto sem retorno. Por vezes, tive medo. Noutras, corri para salvar a pele. Em todas, porém, senti-me em águas tranquilas minutos depois de deixar para trás o epicentro da tempestade. A privação de sono é diferente, porque me acompanhava para todo o lado, a todo o momento. Não me deixava pensar, não me deixava respirar, não me deixava descontrair, não me deixava sorrir e, nos dias mais complicados, não me deixava ser feliz.

Antes de mim, outros progenitores tiveram noites terríveis na companhia dos filhos. E depois de mim, outros tantos passarão com certeza pelo mesmo, ou por pior. Mas nem todos conseguem sair ilesos desta viagem. Nem todos conseguem chegar ao fim sem ver o seu mundo, ou pelo menos parte dele, ruir como um castelo de areia atropelado pela maré. E não. Não é exagero! Há casais que passam, a dormir separados por causa dos ritmos de sono dos bebés. Há pais a perder cabelo e mães a ficar em pele e osso devido ao stress provocado pela situação. Há lares que se fragmentam por completo, sob a pressão das rotinas impostas para resolver o problema. No fim da linha, está o divórcio, que muitas vezes ocorre porque os papás e as mamãs não se põem de acordo quanto à forma de resolver esta questão estrutural, que tem implicações de fundo na vida de um agregado.

Este é apenas um dos muitos desabafos que constam do livro O Meu Filho Não Dorme. Felizmente, conseguimos vencer a batalha contra a privação de sono.