Todos os dias acordo a pensar no meu filho e na minha família. Todos os dias deito-me a pensar no meu filho e na minha família. Por essa e por muitas outras ordens de razão, há reportagens que me custam horrores.
Em Abril de 2015, um homem assassinou o filho de cinco meses com uma facada no peito, em Linda-a-Velha, concelho de Oeiras. Os jornais da época publicaram uma selfie do homicida, com o menino ao colo. A imagem tinha sido captada dias antes do crime e deixou-me petrificado. Era muito parecida com as selfies que, por aqueles dias, eu próprio tirava com o Afonso, diariamente, antes de sair de casa, para depois mandar à minha mulher que já se encontrava no trabalho. Não sei quantas vezes engoli em seco durante aquele directo. Vinha-me à memória o fotograma do bebé ao colo do pai e não conseguia evitar o vislumbre de horror, ao imaginar os últimos instantes de vida do menino.
Um colega da TVI, que foi pai pouco depois de mim, escusou-se a fazer essa reportagem. Pediu para trocar com uma colega que não tem filhos. Depois de me ver no ar, telefonou-me e só disse – Tu és maluco… não consegui ir para aí”. Eu fui, mas para dizer a verdade, só queria sair dali o mais rápido possível.
A 10 de Abril de 2018, uma mulher assassinou a filha recém-nascido, com vários golpes de faca. Deu à luz, em casa, com a ajuda da irmã gémea. Escondeu a gravidez e combinou o parto secreto com a pessoa em quem mais confiava. Não teve a ajuda de anestésicos nem quando a criança saiu do seu ventre, nem quando foi suturada nos genitais. As manas só telefonaram para o Número Nacional de Emergência Médica, porque não conseguiram estancar a hemorragia da parturiente. Quando os bombeiros e a polícia chegaram, a bebé estava dentro de um saco do lixo.
Este é mais um daqueles directos em que, durante quatro ou cinco minutos, tenho de me esquecer que sou pai, para conseguir ser jornalista e não perder a clarividência.