O Que Podem os Adultos Aprender Com as Crianças

Costumo dizer muitas vezes que aquilo que ensinamos aos nossos filhos não é nada, quando comparado com aquilo que eles nos ensinam a nós. Esta minha velha máxima adequa-se na perfeição à Lia. Quando a conheci ela estava prestes a fazer 3 anos. Hoje, faz 10. Está uma matulona. E não é só em tamanho. É também em maturidade.

A Lia é um exemplo de superação. Devia dar lições a muitos adultos sobre coragem e capacidade de ultrapassar os seus próprios limites, os seus medos, as suas dificuldades. É sensível, inteligente e sabe comportar-se. É gira que se farta! Sabe ser criança quando é preciso. Sabe ser mulherzinha quando a situação o impõe. Também sabe ser manhosa e artolas q.b. Faz parte. É sinal que tudo está a correr como era suposto.

A principal lição que a Lia e o Afonso me ensinam todos os dias é a da simplificação. A vida é, geralmente, mais simples do que parece. Mas muita gente, muitas vezes, tende a complicar. No entanto, as crianças reduzem tudo ou quase tudo ao básico, ao essencial. É essa a principal lição que a Lia e também o Afonso, me ensinam quase todos os dias.

Parabéns, Lia! Parabéns, minha filhota do coração! Obrigado por tudo o que me ensinaste.

As Bejecas, a Bola e as Noites Sem Dormir

Quando temos um filho que sofre de insónia infantil pensamos em todas as estratégias e mais alguma para tentar que ele durma em condições. Aqui ficam algumas das possibilidades à disposição no mercado:

Quando nos deparamos com uma provação de semelhante magnitude, só há duas formas possíveis de enfrentar as noites. A mais plausível é procurar ajuda em livros, ou junto de terapeutas que ensinem o treino do sono. A alternativa é passar serões até de manhã a ver jogos da Liga Inglesa e mamar bejecas com o puto, no sofá da sala, para começar desde cedo a ensinar-lhe bons hábitos. Caso a criança seja do sexo feminino, existe uma alínea que prevê a possibilidade de passar serões até de manhã a ver filmes de princesas e comer pipocas carregadas de açúcar, num pufe do quarto da menina. Eu escolhi a via do aconselhamento porque não pago Sport TV, para além de não gostar de filmes de miúdas que, a determinada altura, ganham asas e começam a voar sobre prados verdejantes.

In, O Meu Filho Não Dorme, Luís Maia, Editora Guerra e Paz, 2018

Homens de Barba Rija

O meu filho tem quatro anos. Já quase sabe nadar, já quase toca bateria, já quase escreve o nome dele sem ajuda, já se veste sozinho, já diz umas coisas em língua inglesa, já conduz o seu carro elétrico e já tem a carta de condução da Kidzânia. Ah!… Até já dorme!

Não sei muito bem quais eram as minhas habilidades aos quatro anos, mas acho que não se comparavam às do Afonso. E não pretendo com isto reclamar o estatuto de sobredotado para o meu filho, até porque os seus amiguinhos da sala dos 4 anos, lá do externato, têm tantas ou mais aptidões do que ele. Tão pequeninos, tão bochechudos e já são uns homens de barba rija.

Nos dias que correm, empurramos os nossos filhos para a vida desde muito tenra idade. Damos-lhes actividades, experiências e tecnologias. Mas estas ferramentas só valem a pena se pincelarmos tudo com amor, se lhes soubermos dizer “não” nas alturas certas e se lhes ensinarmos a responsabilidade. O Afonso há-de ser o que quiser ser. Espero que seja um vencedor. Espero que seja feliz. Espero conseguir ajudá-lo a trilhar esse caminho. E espero ter  a sabedoria suficiente para deixá-lo voar quando ele ganhar asas. É maravilhoso vê-los crescer. Ele está sempre a dizer que é um homem. E é. Por sinal, um de barba rija.

Juntos Somos Mais Fortes

Há quem goste de começar a ler os livros pelo final. Eu não sou desses, mas hoje vou vestir a pele do spoiler, como se diz nos dias que correm. Vou revelar os derradeiros parágrafos do meu último livro, O Meu Filho Não Dorme. Porque o final desta história é o principio da nova vida da minha família. E porque estas linhas são testemunhas de uma história de amor verdadeiro.

Antes de mim, outros progenitores tiveram noites terríveis na companhia dos filhos. E depois de mim, outros tantos passarão com certeza pelo mesmo, ou por pior. Mas nem todos conseguem sair ilesos desta viagem. Nem todos conseguem chegar ao fim sem ver o seu mundo, ou pelo menos parte dele, ruir como um castelo de areia atropelado pela maré. E não. Não é exagero! Há casais que passam a dormir separados por causa do ritmo de sono dos bebés. Há pais a perder cabelo e mães a ficar em pele e osso devido ao stress provocado pela situação. Há lares que se fragmentam por completo, sob a pressão das rotinas impostas para resolver o problema. No fim da linha, está o divórcio, que muitas vezes ocorre porque os papás e mamãs não se põem de acordo quanto à forma de resolver esta questão estrutural, que tem implicações de fundo na vida de um agregado.

Para evitar o abismo, temos de nos agarrar à esperança, ser persistentes, manter as tropas unidas lá em casa em torno de um objectivo. E o objectivo só pode ser o de dar noites descansadas a toda a gente, começando pelo bebé. Para lá chegar, é preciso fazer o que tem de ser feito, ainda que os meninos e meninas chorem, ou que algumas etapas do processo deixem os nossos corações de pais num desassossego. Jamais devemos aceitar as noites em claro como algo normal ou inevitável. Porque não são! O caminho para chegar ao porto seguro que afortunadamente encontrei é tortuoso, por vezes maldito, mas a meta está lá à frente. A vida não é o labirinto de Creta!

Felizmente, aguentei. Aguentei porque aguentámos os quatro, sem deixar a casa vir abaixo. Aguentei porque a Susana é uma grande mulher, que segura todas as pontas numa situação de crise, e porque tem a coragem de confiar em mim, mesmo quando lhe proponho um caminho que não seria a sua primeira escolha. Aguentei porque a Lia é uma marmota linda que não levanta ondas se lhe dissermos para dormir num colchão, no soalho do nosso quarto e porque nem pestaneja se o irmão estiver aos gritos, a meio da madrugada, mesmo ao lado dela. Aguentei porque o Afonso é um bandido maravilhoso, um menino valente e inteligente, que soube aprender o que o papá lhe ensinou. Aguentei porque aguentámos os dois. E, quem sabe, por termos aguentado juntos tantos momentos tão difíceis, no limiar do desespero, hoje somos unha e carne. Sem medo de ser tomado por imodesto ou vaidoso, posso afirmar com segurança termos a cumplicidade que, acredito eu, qualquer pai e qualquer filho devem ter. Obrigado Afonso! Por não saberes dormir, fizeste de mim melhor pai e, talvez, melhor pessoa.

Ser Pai Já Não é o Que Era (é Muito Mais)

Não podia deixar de plasmar neste blog, as palavras de uma mulher, uma das pessoas que ajudou a minha família a mitigar o calvário das noites mal dormidas. A Filipa Sommerfeldt Fernandes é terapeuta do sono, escreveu o prefácio d’O Meu Filho Não Dorme e descreve-me, de forma elogiosa, como um pai dos tempos modernos.

De facto, ser pai nos dias de hoje, apresenta desafios completamente diferentes daqueles que se colocavam nos tempos dos nossos pais e dos nossos avós. As linhas que se seguem reflectem apenas um dos aspectos em que mais se nota essa mudança.

Cá vai:

A maioria dos pais não acorda de noite quando os filhos chamam; continuam a dormir. A mãe pode levantar-se cinco vezes e estar de rastos de manhã que não é raro ouvir um: Esta noite até foi boa, não foi?

A maioria dos pais precisa de levar uns bons pontapés das mulheres (por vezes dados com mais garra e determinação do que o esperado) para conseguir levantar-se às 3h00 da manhã e ir preparar um biberão ou acalmar um bebé que chora. E fazem-no quase sempre a rosnar, zangados pelo sono interrompido.

A maioria dos pais entra no quarto onde o filho dorme tranquilamente e, na sua cabeça, sente-se a versão feminina das fadas (mas sem collants ou coisas do género), pois acham que vão pairar até à cama qual pássaro de asas estendidas a ser transportado pelo vento. Mas isto é só nas suas cabeças. Na realidade, as suas passadas assemelham-se às de um rinoceronte a percorrer uma passerelle, a respiração parece um tractor e o movimento nos lençóis faz lembrar uma luta de gatos dentro de um saco de plástico.

Os miúdos acordam. As mães irritam-se com os pais em silêncio (ou não), os pais bufam e as mães vão lá…

Ao longo dos anos a lidar com mães e pais que sofrem com a privação de sono, posso dizer que encontrei de quase tudo. E embora haja cada vez mais pais presentes de noite, na realidade a maior parte dos despertares nocturnos dos nossos filhos ainda é assegurado pelas mães.

Pelo caminho, vou encontrando excepções à regra. Pais que, como o Luís, querem (aliás, fazem questão disso!) levantar-se de noite e ser eles a cuidar dos filhos. As mães agradecem – e estes pais é que são espertos, porque uma mulher agradecida é uma companheira muito, muito mais fácil!

O Luís e a Susana entraram na minha sala para uma consulta sobre o sono do Afonso e em pouco tempo percebi que aquele era um Paizão. desde muito cedo que o Afonso não dormia bem e, por isso, o Luís sempre assumiu a tarefa nocturna como o seu papel natural. No inicio dividia com a Susana, mas nos últimos tempos – antes de o conhecer – já era mais ele quem se empenhava em que o miúdo dormisse e descansasse a horas que eles consideravam ser as saudáveis recomendadas para a sua idade. Deu para perceber que não só por ser um grande pai e um grande companheiro… mas também porque é regrado (e empenhado). E os pais demasiado regrados e rotinados acabam sempre com esta frustração: a dos miúdos não responderem exactamente como eles desejam.

Este pai-marido-jornalista tinha desenvolvido um ritual fantástico para o Afonso ir dormir à noite, mas que passava por tantas etapas que o miúdo acabava certamente por se esquecer de que o objectivo era dormir e não conversar e brincar. A Susana e o Luís estavam tão empenhados em serem metódicos que nunca sairam da sua rotina – que deu azo a momentos bem caricatos e cómicos, mas também complexos, como os que vão ler neste livro.

E no momento em que relaxaram e permitiram que todos em casa respirassem (e mais umas coisinhas que aqui a terapeuta do sono lhes indicou!), o Afonso começou a dormir melhor e todos passaram a descansar.

Este livro é para todos os pais e mães. Para aqueles que não dormem uma noite completa há demasiado tempo e para os que sempre dormiram bem.

É uma história tragico-cómica, um retrato da parentalidade dos nossos tempos. São histórias reais, na voz de uma pessoa conhecida, que mais do que um jornalista, é Pai.

Não dormir é terrível. Quem passa por meses ou anos sem dormir uma noite completa sabe bem os efeitos que a privação de sono tem, não só no desenvolvimento da criança, no nosso humor e saúde, mas acima de tudo na harmonia da nossa família.. No meu trabalho não é raro encontrar pessoas que perdem a saúde, a paciência, a energia, o trabalho e… os companheiros. Pelo caminho vamos fazendo de tudo para que os miúdos durmam. E, por vezes, quando paramos e olhamos para nós, é inevitavel não sorrir (ou rir à gargalhada) com aquilo que fomos tentando.

Um livro imperdível, que garante muitos momentos divertidos e com o qual muitos pais ( e mães) se vão certamente identificar.

O Luís é o retrato do pai dos tempos modernos.

Filipa Sommerfeldt Fernandes

Terapeuta do Sono