Não podia deixar de plasmar neste blog, as palavras de uma mulher, uma das pessoas que ajudou a minha família a mitigar o calvário das noites mal dormidas. A Filipa Sommerfeldt Fernandes é terapeuta do sono, escreveu o prefácio d’O Meu Filho Não Dorme e descreve-me, de forma elogiosa, como um pai dos tempos modernos.
De facto, ser pai nos dias de hoje, apresenta desafios completamente diferentes daqueles que se colocavam nos tempos dos nossos pais e dos nossos avós. As linhas que se seguem reflectem apenas um dos aspectos em que mais se nota essa mudança.
A maioria dos pais não acorda de noite quando os filhos chamam; continuam a dormir. A mãe pode levantar-se cinco vezes e estar de rastos de manhã que não é raro ouvir um: Esta noite até foi boa, não foi?
A maioria dos pais precisa de levar uns bons pontapés das mulheres (por vezes dados com mais garra e determinação do que o esperado) para conseguir levantar-se às 3h00 da manhã e ir preparar um biberão ou acalmar um bebé que chora. E fazem-no quase sempre a rosnar, zangados pelo sono interrompido.
A maioria dos pais entra no quarto onde o filho dorme tranquilamente e, na sua cabeça, sente-se a versão feminina das fadas (mas sem collants ou coisas do género), pois acham que vão pairar até à cama qual pássaro de asas estendidas a ser transportado pelo vento. Mas isto é só nas suas cabeças. Na realidade, as suas passadas assemelham-se às de um rinoceronte a percorrer uma passerelle, a respiração parece um tractor e o movimento nos lençóis faz lembrar uma luta de gatos dentro de um saco de plástico.
Os miúdos acordam. As mães irritam-se com os pais em silêncio (ou não), os pais bufam e as mães vão lá…
Ao longo dos anos a lidar com mães e pais que sofrem com a privação de sono, posso dizer que encontrei de quase tudo. E embora haja cada vez mais pais presentes de noite, na realidade a maior parte dos despertares nocturnos dos nossos filhos ainda é assegurado pelas mães.
Pelo caminho, vou encontrando excepções à regra. Pais que, como o Luís, querem (aliás, fazem questão disso!) levantar-se de noite e ser eles a cuidar dos filhos. As mães agradecem – e estes pais é que são espertos, porque uma mulher agradecida é uma companheira muito, muito mais fácil!
O Luís e a Susana entraram na minha sala para uma consulta sobre o sono do Afonso e em pouco tempo percebi que aquele era um Paizão. desde muito cedo que o Afonso não dormia bem e, por isso, o Luís sempre assumiu a tarefa nocturna como o seu papel natural. No inicio dividia com a Susana, mas nos últimos tempos – antes de o conhecer – já era mais ele quem se empenhava em que o miúdo dormisse e descansasse a horas que eles consideravam ser as saudáveis recomendadas para a sua idade. Deu para perceber que não só por ser um grande pai e um grande companheiro… mas também porque é regrado (e empenhado). E os pais demasiado regrados e rotinados acabam sempre com esta frustração: a dos miúdos não responderem exactamente como eles desejam.
Este pai-marido-jornalista tinha desenvolvido um ritual fantástico para o Afonso ir dormir à noite, mas que passava por tantas etapas que o miúdo acabava certamente por se esquecer de que o objectivo era dormir e não conversar e brincar. A Susana e o Luís estavam tão empenhados em serem metódicos que nunca sairam da sua rotina – que deu azo a momentos bem caricatos e cómicos, mas também complexos, como os que vão ler neste livro.
E no momento em que relaxaram e permitiram que todos em casa respirassem (e mais umas coisinhas que aqui a terapeuta do sono lhes indicou!), o Afonso começou a dormir melhor e todos passaram a descansar.
Este livro é para todos os pais e mães. Para aqueles que não dormem uma noite completa há demasiado tempo e para os que sempre dormiram bem.
É uma história tragico-cómica, um retrato da parentalidade dos nossos tempos. São histórias reais, na voz de uma pessoa conhecida, que mais do que um jornalista, é Pai.
Não dormir é terrível. Quem passa por meses ou anos sem dormir uma noite completa sabe bem os efeitos que a privação de sono tem, não só no desenvolvimento da criança, no nosso humor e saúde, mas acima de tudo na harmonia da nossa família.. No meu trabalho não é raro encontrar pessoas que perdem a saúde, a paciência, a energia, o trabalho e… os companheiros. Pelo caminho vamos fazendo de tudo para que os miúdos durmam. E, por vezes, quando paramos e olhamos para nós, é inevitavel não sorrir (ou rir à gargalhada) com aquilo que fomos tentando.
Um livro imperdível, que garante muitos momentos divertidos e com o qual muitos pais ( e mães) se vão certamente identificar.
O Luís é o retrato do pai dos tempos modernos.